viernes, enero 24

Pindorama ou A Galinha dos Ovos de Ouro


(Proposta textual para a Performance  “Pindorama ou A Galinha dos Ovos de Ouro de Ismael Silva e Carolina Burnier)



Nos inícios primordiais, duas fêmeas efêmeras fêmeas. Não sensíveis, não afáveis, docilidade transitória da disputa, ânsia de parir a outra em carne, em “filho” em coisa que gerasse o restante, algo além da disputa de ambas, alguma coisa com vida além obviamente das duas.

Dois touros “fêmes” em sua dança primal. Girando com o mundo que ainda não existe e que está prestes a ser gerado pelas ventanas da pele, seduzindo uma a outra e a si e o suor e o nada.

Dança primal e final, que dará o direito sagrado do contato das rústicas mãos a tocar a outra . Movimento tosco do desejo de relíquia geracional terrestre.

E o som rasgado de um atabaque solo, dos barulhos que o corpo exala em ferocidade, no couro do instrumento, três instrumentos, touro fême e atabaque, onde o som, a dança e o suor se preparam para a origem da terra.

Pindorama da carne, rústico corpo-cidade que emite barulho e que seu próprio invento de criação pode chegar a ser a origem do caos destrutivo da violência do filho gerado.

Animais de quatro patas devoradores e que esmagam com o casco qualquer gramínea abaixo dos pés, mas não existe nada, só duas lutas compostas, não diferentes, muito menos  antagônicas.

Violência do direito ao primeiro toque, objeto indecifrável vivo e revivo que movimenta os dois corpos taurinos pela simples vontade de chegar e pisar na terra, não importando os meios que o irão provir, nem se os dois bichos dançarão até a exaustão do corpo.

Tríade vertente dos inícios, dois touros fême dançando até o caos, até que uma do duo sinta as primeiras cólicas do parto e gere o pé descalço em terra, a galinha dos ovos de ouro, guardada na pindoracidade dos poros e em pelo nu.

Invólucro cru das ardências na entranha, do fogo queimando e devastando a terra que a gera.

Instante da coisa parada, o primeiro segundo de toda a desgraça da sedução. E dois corpos remando em direção a febre do ouro. 

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