(Proposta textual para a Performance “Pindorama ou A Galinha dos Ovos de Ouro de Ismael Silva e Carolina Burnier)
Nos inícios primordiais, duas
fêmeas efêmeras fêmeas. Não sensíveis, não afáveis, docilidade transitória da
disputa, ânsia de parir a outra em carne, em “filho” em coisa que gerasse o
restante, algo além da disputa de ambas, alguma coisa com vida além obviamente
das duas.
Dois touros “fêmes” em sua dança
primal. Girando com o mundo que ainda não existe e que está prestes a ser
gerado pelas ventanas da pele, seduzindo uma a outra e a si e o suor e o nada.
Dança primal e final, que dará o
direito sagrado do contato das rústicas mãos a tocar a outra . Movimento tosco
do desejo de relíquia geracional terrestre.
E o som rasgado de um atabaque
solo, dos barulhos que o corpo exala em ferocidade, no couro do instrumento,
três instrumentos, touro fême e atabaque, onde o som, a dança e o suor se
preparam para a origem da terra.
Pindorama da carne, rústico
corpo-cidade que emite barulho e que seu próprio invento de criação pode chegar
a ser a origem do caos destrutivo da violência do filho gerado.
Animais de quatro patas
devoradores e que esmagam com o casco qualquer gramínea abaixo dos pés, mas não
existe nada, só duas lutas compostas, não diferentes, muito menos antagônicas.
Violência do direito ao primeiro
toque, objeto indecifrável vivo e revivo que movimenta os dois corpos taurinos
pela simples vontade de chegar e pisar na terra, não importando os meios que o
irão provir, nem se os dois bichos dançarão até a exaustão do corpo.
Tríade vertente dos inícios, dois
touros fême dançando até o caos, até que uma do duo sinta as primeiras cólicas
do parto e gere o pé descalço em terra, a galinha dos ovos de ouro, guardada na
pindoracidade dos poros e em pelo nu.
Invólucro cru das ardências na
entranha, do fogo queimando e devastando a terra que a gera.
Instante da coisa parada, o
primeiro segundo de toda a desgraça da sedução. E dois corpos remando em
direção a febre do ouro.
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