jueves, diciembre 2

Reverberação

A cada novo despertar de amanhã se dava conta que esta novamente sozinha. Inaugurava seu passado a cada...

E as pequenas intromissões, as pequenas pausas que também se faziam renascer. O leve bocejar e os momentos em que esfregava os olhos, sentindo falta. Aquela coisa que se escondia entre a reverberação e o passo seguinte. Não se percebe um novo som, mas há uma continuação do som inicial. Menos de um segundo e a duplicação se perde. A mensagem se perde na absorção das paredes.

No meio do auditório das desilusões. E as pessoas apenas me olham. Elas sempre pensam em puxar um pouco mais forte os meus cabelos e arrancar grossas tiras de pele e carne.

Com um leve concordar aceito o medo de todos eles. E consigo ver quanto tempo todos eles esperaram para ver a face refletora, a ausência de culpa os fazia paralelos, eram todos igualmente refletidos e perdoados pelos meus olhos, eram feixes de luz que saltavam pelos poros do corpo, pelos orifícios, sempre ficavam belos quando se colocavam em fileiras perfeitas. Cada um esperava o seu momento para ver os longos dedos enroscando delicadamente cada julgamento feito. Alguns ainda tentavam me dizer coisas nos ouvidos. Outros gritavam. Havia algumas velhas carpideiras entre todos eles, que ao contrário do ofício, sorriam e vestiam-se de branco.

Fazia muito calor e pedi para que me pintassem os lábios de vermelho antes que eu pudesse acordar os fixos olhos pausados. Causavam-se mais de vinte mortes por minuto na tentativa de esquecer o que tínhamos visto no instante anterior.


Bianca Burnier