martes, agosto 28

domingo, agosto 5

Perseguir para Sobreviver

Para que tivesse alguma serventia, algum tipo de ligação possível com esse sentimento. Seria essa a justificativa provável para que eu me sentasse diante do “mal querer” e falasse tantas coisas quanto fosse possível. E que nunca chegasse o instante do silêncio, esse silêncio denunciante e que no mais tardar anuncia um sorriso largo, que de tão largo, as restantes feições afrouxam-se no rosto.

E esse “desconjunto” sincero alardeia as boas vindas de realidades passadas. Um desconexo lógico, vibrante no marasmo da língua cansada. Porvir de pensamento. Atividade. Era essa a realidade que o corpo tinha anseio e todo o seu contexto de pele e órgãos lamentava a ausência de possibilidade, do cheiro de mulher frustrada que não tinha como resgatar algum resquício das passionalidades do amor.

E me perguntas da vida de forma tão simples. Essa espontaneidade forçosa para evitar o silêncio, para a verdade não ser revelada dessa forma, diante de quatro paredes impunes, de cores impunes e seres descalços.

O nada está diante das coisas circulares e o círculo nos festeja de forma simples. O nada gira conosco e em torno de nós esse caminho vazio espera o ato seguinte, o acontecimento dos gestos.

A impunidade do amor persegue os tristes desavisados de causas radicais.

Nos persegue.

Persegue-nos para sempre.

Bianca Burnier

Eu


Quando se deu conta do que via, não acreditou por nem ao menos um instante. Poderia alguém furtar-lhe as cousas guardadas na pele?
Tal e qual Roxanne a prima apaixonada, lhe veio à dor duas vezes de se perder o bem amado. E quanto mais se jurava ao sol estar brilhando, mais continuava sofrendo em pranto, pois que este não mais brilha e sim apaga.
Sentiu o cheiro aprisionado das rosas na ante-sala, que a fazia lembrar de sua primeira vez com a morte. Era solitário o cheiro das rosas, assim como o corpo já sem vida em cima da mesa, era isso a alma de Coralina.
Tomou as lágrimas como parte do rosto, quando estas vieram, não as deixou rolar e secar como fazem os tristes, pois não pertenciam a ela e nesse instante deu-se conta de que nada era seu.
Escrevia mil vezes o seu nome na própria pele e nem assim ela sentiu-se pertencente, privada ou mais-alguém. Nesse momento riu involuntariamente, ria de si mesma e das lágrimas, ria também do amor que nunca teria, pois não queria este e se ria dele.
Era sua auto-ironia e em um processo convexo perdia-se em alguma parte, marcando e gritando histericamente “Eu” na pele que não era sua.



Bianca Burnier

miércoles, agosto 1

A Sobriedade das Cores

Na esperança de que algo causasse estranheza ao que sentia, abriu a gaveta do armário e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Analisou por alguns instantes a forma insegura e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir tudo de uma única vez.

Em poucos passos alcançou a janela e olhou para baixo ainda segurando o frasco. Tentou agarrar com a mão que lhe sobrara um pouco de ar para levar aos pulmões, como fazia ainda menina e ficou a pensar se não era o ar que abraçaria sua mão e não ela e sua tentativa anterior.

Olhou ao redor e viu as paredes do apartamento muito bem pintadas com cores sóbrias e por instantes o objeto que carregava consigo desequilibrou a sobriedade das paredes, infligindo uma espécie de nova regra ao espaço.
Retornou a gaveta do armário, abriu, e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Como se previsse o próximo passo pensou que o ar faria bem para seus pulmões e com a mão que lhe sobrara agarrou sobriamente a outra mão, olhou para baixo e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir todo o ar de uma única vez.

Logo encontrou as paredes dentro do frasco e em longos passos alcançou o ar sóbrio que adentrava no apartamento e fazia com que suas mãos ficassem nervosas, respirou o desequilíbrio para seus pulmões e o seu rosto bem pintado causou estranheza ao se olhar na janela, e como se ainda fosse menina olhou para baixo agarrada ao frasco e desequilibrando as nuvens infligiu uma nova regra ao apartamento.

Bianca Burnier