jueves, marzo 24

Invento-te histórias do meu dia, tranco as portas na tentativa de manter-te dentro de casa, dentro dos meus dias repletos de tantas coisas. Teu rosto encarnado na figura do retorno.

A conversa que preciso ter e pela necessidade do exaspero de falar me recato ao meu próprio silêncio.

“Mãe, sou tal coisa.” As vezes necessito de um abraço, apenas o envoltório que a necessidade ideal nos faz ter de amor. As fotos bruscamente retiradas dos murais, que o tempo exercendo suas funções autoritárias impedem que eu me lembre da forma que o seu corpo impunha nas sentenças ditas.

Vagar pelos arredores buscando qualquer vestígio, qualquer poeira que nos encante pela memória. As “invarríveis” lembranças de tua pele morena a circundar minha imagem no espelho.

Desespero-te, como se amasse meu ego em triunfo aos elementos da catástrofe que se impõem no cotidiano. Poderia eu mais uma vez encantar-te com o hino que invento e com as cores alvinegras de meu uniforme.

A camisa desbota, a memória desbota e o linho que fez parte na indumentária secular renasce em campos livres para a flor, como se Mané pudesse retornar aos mesmos campos, estes da bola, e mais uma vez chamar-te de “João”. João que me reconhece e me arranca vibrações indubitáveis. Ao que chamo pai, uni-se simetricamente ao amor que chamo irmã, que cuido e preservo durante a minha agonia de minha morada final. E as demais confabulações criadas à palma de mão resumem a minha imagem e semelhança, esta qual que possui as mesmas letras do sacerdócio fraternal e que se aproxima na íngreme parada na qual retorno a mim mesma.


Bianca Burnier