Bastava que abrisse a boca para que fosse possível sentir o
cheiro da bebida misturada com algumas pontadas de dor no baixo ventre,
misturadas com o cheiro crônico do cigarro na roupa, misturados com ônibus, celulares
tocando impunemente polifônicas sinfonias clássicas, o guarda chuva que
esquecemos no banco do metrô e pessoas teoricamente comuns. Na verdade nunca
foi preciso que abrisse a boca para dizer nada, tudo sempre esteve exatamente
ali nas cores do rosto para que fosse visto. Era quase que uma aparência
insossa e autodeclarada de si mesma.
As
costas doíam, a cabeça latejava, a
insônia e algumas dormências em certas partes do corpo. Em certas
ocasiões...
Talvez
seja melhor riscar todas essas linhas do caderno, antes que alguém descubra que
isso não é um conto. Não que seja autobiográfico, é que no mundo de hoje, não
se pode ter a dádiva de ser avesso. O problema mesmo é que às vezes eu não sou
eu mesma.
“Porra, vinte anos e já sei que vou morrer. Que graça
podemos implorar para conseguir algum tipo de sugestão que valha pelo menos a
dúvida de que estamos vivos?”