lunes, enero 14

Para Sentir no Quase do Existir


Esse corpo oscilante entre nossas distâncias. Paire sobre mim querida, não estática, mas que seja dessas coisas que fazes, esse não mover de ordem caótica em mim.

E me enganas nesse meio tempo, essas histórias que ouço calada. No seu silêncio perpetua sempre esse meu desespero das angústias, do não saber certeza. Esta cousa que aflige seu movimento de mãos e as mãos impedidas de gestos amáveis ao meu caricato sorriso.

Brilhem os sóis também entre os seus cabelos, porque não basta ter claridade nos dias de cinza, que se tenha sol debaixo de cada unha. E nesse nosso brilho próprio que haja montaria de verso e luz para que se alcance alguma coisa, para poder chegar perto e dizer que estou cega de ti.

E deixar-se cega é sempre a opção reconfortante para nós que não nos vemos, e talvez até esse exaspero de não nos conhecermos a tantos minutos assim ou pelo menos não suficiente para que eu fale de sol e cabelo, porque existe, incide e reside em alguma ideia minha a sua ideia interminada e quando você me apareceu já não havia intenção imagética, porque eu era a resultado da criação que você bem entendesse de mim.

Produto seu.

Foi quando eu vi os sóis, você parada, eu vendo você parada sendo sol de você, você parada sendo o sol.

E nessa hora eu era ideia ainda, mas você me viu materializada nessa cordialidade de me ver aonde eu não estava, aonde eu ainda não era, você me viu sendo coisa em qualquer canto, desmaterializada não sendo eu.

Antes de qualquer coisa meu bem, eu queria agradecer a esse seu impulso de reabilitar as coisas invisíveis, não falo isso a toa. Foi importante para mim começar a existir bem logo naquele momento.

Sendo eu coisa sua, para os outros eu sou ideia ainda. E eu preciso ser paciente dessa percepção alheia para que a cada instante me vejam no lugar onde não estou, porque onde você não está eu sou só ideia ainda, sabe?

Bianca Burnier