viernes, enero 16

Diário de auto cuidado para migrações compulsórias






Norte D’este
Norte deste
norte deste, alguém
sina de quem procura
sede de quem procura
nortear quem procura norte
paraíba
quemgo chato
boia fria
lá cheio
pau na arara.                                                                                               
0548

nortear quem procura sorte 
máquina de nortear
quem busca norte
norteado no sudeste
acalambrado na mesma
senzala de sequestros
norteador norteia pro próprio norte                                                                                                                                                                                                 0486

norteador norteia sempre
e muito
e morte
e geme forte
e mordendo pedaço
contrariando sempre
contra tua própria sorte                                                                                                                                                                                                                  0152

que tu se morda sempre
quando chegar nesse norte 
de quem norteia
paulistana atlântica é de arrancar feroz os óio
e desse buraco funda que fica na nossa cara
norteador norteia pra tua morte                                                                                                                                                                                                    0107

e se mesmo assim escolher
para o sul da travessia
lembre sempre companheira
nos momentos de agonia

que quem remexe terra
trançando caminho
fazendo linha na estrada
sempre tem estrela no topo
da cabeça encruzilhada.                                                                                         

                                                                                                          02035

de frente pra poeira do mundo
não tem quem  pra te negar
caminho que come cume
serpente
axé do meu povo que invade
suas terras
nossas
pra retomar


                                                                                                        01548







lunes, noviembre 10

O Dia que a Carpideira Chorou no Velório de Maria das Dores ou O Primeiro Sol nas Costas




Assim como o contrato intrínseco que existe entre a vida e a morte,tentamos estabelecer o mesmo acordo entre o registro da oralidade entrevistadora e os  tantos olhares que existem dentro de uma única fala.

O que de fato tentamos fazer nesse registro, o que de alguma forma envolveu naturalmente esforços dos mais variados no decorrer da construção, foi realizar um objeto final coletivo que respeitasse a pluralidade de uma fala com tantos outros olhares em si.

O mito da morte e o mito da fala única, carregando em sua essência a necessidade dos causos populares, dos olhares do povo de sua auto tragédia anunciada.

A transgressão do inventário do causo popular que supera o ato concreto de morrer pela última vez.

A entrevista da morte, pelos olhos da gente que também morre e não dá entrevista.





“de fato ninguém sabia, mas no entre-tantos
em tanto canto uma certeza é severa
a morte chega
e é o coveiro que vive da morte
encarregado do braço final
pá de terra sobre o peito
vestido preto
e o sol arde
como se o próprio inferno fosse a junção do calor mais a morte
é disso tudo que nasce o diabo
e o diabo se chama Maria das Dores
e o coveiro é empresa terceirizada
que manda as alma fulana
pro julgamento final.
e nos princípios era acordo de verbo
diabo e coveiro se apalavram
porque julgamento final é falácia
tem céu não mais acima desse que tem na nossa cabeça
só tem o centro da terra que é quente, lua e o sol que é quente também
e vai todo mundo pra um lugar mais quente ainda
o centro da terra é o inferno
e tá todo mundo lá
e nesse caso todo de inferno super lotado
teve arroxo nos repasses de Maria das Dores em cima dos coveiros
e em  toda gente que lidava com morte
era mal falatório das rezadeira do Açaré 
até criação de SindMorteRJ de Cabo Frio
era tudo que era essa gente junta pra tentar reclamório contra os apertos salariais de morte de Dona Maria das Dores
e tinha essa menina
Lurdes de Cabo Frio
que bem dizia seus cantos nos velórios da cidade
casada com o coveiro Zé Augusto lá da Santa Casa
e de um mais outra das reclamações do povo da região
os dois se junta com um tanto de gente,
dos sargentos das funerárias ao comércio de Lindalva de Coroas de Flores
das rezadeiras dos costumes de arruda do bairro de Jardim da Esperança
até Preta Benedita que chorava com Lurdes nos velórios.
e disso tudo pra não mostrar brincadeira criam o SindMorteRJ.
 Sindicato da Morte do Rio de Janeiro.
eleição pra presidência do Sindicato
foi chapa única de Lurdes e Dona Benedita
eleitas por aclamação popular
dia seguinte reunião já marcada  
pra firmar compromisso com a base
e juraram colocar de um tudo nessa reunião
e explicar pras das Dor que não tinha era jeito
que qualquer corpo que caísse nas terras de Cabo Frio, Araruama ou São Pedro  iam era ficar sem chorona de Benedita,
reza, terra ou  coroa de flor
e por tempo  intederminado era essa greve
era rever os arroxos no povo de morte
ou ninguém mais morria nessas terras de chão salgado
e o tal dia era chegado dessa reunião
Lourdes e Benedita caminham até o cemitério central
que é lugar marcado com o Demo
metade de dia e sol
chegando lá com Maria das Dor muito solicita
como quem agrada depois de erro
ouve tudinho sem um pio
e depois das queixa da falta de prata
 justifica constrangida que pra dinheiro de pão do povo não se brinca e não se espreme salário
e disse que não tinha autonomia pra fazer seus projetos no inferno
que o negócio era um teatro puro
tudo a cargo do Homem do Céu
inclusive os arrouxo de quem trata dos assuntos de passagem pro outro lado
disse até que seu salário tinha caído na metade
e os capeta dos quatro cantos também tava era organizado pra atentar o juízo de Deus
e o negócio foi o seguinte
Lourdes e Benedita se juntam com das Dor
e teve gente falando que era pacto com o Demo aquilo tudo
e era mermo
no inferno faz tanto sol como em romaria pra Espírito Santo
é o mesmo sol que bate na cabeça
o nosso chão é da mesma terra que o céu do inferno
e deus foi que se danou desse acordo todo
foi falta de romaria que se ando do rio de janeiro pra tudo que era canto do país
e todo condenado ao sol na nuca cruzou os braços
diz até que o coronel do paraíso ficou foi doido quando viu por 15 dias ninguém chegando pro seu próprio juízo final
teve defunto ressuscitando no próprio velório
ninguém era fura greve
dotô lá de cima teve que volta atrás
trazer os salários de todo capeta que trabalha nas duas terra
o povo tinha criado era juízo
deu conta do sol que tem
alumio foi as idéia 
 e minha avó que dizia que a gente tava mais perto do diabo que de deus
tava certa era mesmo
depois desse causo todo
criaram foi investigação na prestação e repasse de verbas das Contas do Santíssimo
já tem mais de 3 reuniões do Comitê que o Anjo não aparece
o bicho não desce do céu
e a gente se presta a papel de besta
esperando resposta e olhando pra cima
o homem que é diabo sofredor dessa história
fez aliança com o inferno pra deixa de mazelar um pouco nessa vida
e minha avó que dizia que a gente tava mais perto do diabo que de deus
tava certa era mesmo
a gente é que tem um inferno todo dia dentro do peito
a gente que é diabo sofredor nessa terra toda esquecida por Deus

e lembrado, apalavrado,registrado em cartório por Maria das Dor.”



Agradecimento pela colaboração de minha mãe Andréa, 
dos meninos Luis Otávio e Raphael, 
a Dona Maria das Dores, 
agradeço ao meu aconchego Bia,
a meu avô  baiano Betinho que foi meu primeiro contador de história popular
 e a todo causo de morte que eu ouvi de toda gente durante essas entrevistas



Minha Avó Neuza Neves que de tudo sabia um pouco.






martes, septiembre 9

Gen(g)itália









minha língua hoje tocou meus dois dentes da frente,só que por trás.



existe eroticidade em tudo que se faz nessa vida
meus dentes estáticos. os dois sendo alisados ao mesmo tempo. com o tesão da língua já molhada. eles também.



eu em processo de tempestade na praça da bandeira
sendo arrastada por tanta água, que eu to ali entre os dois incisivos centrais



eu sou a fenda Bardot pra minha própria língua






a língua por trás. os incisos como dois frios corpos caprinos que te espremem. até o chão pulsante da boca






abro o jogo

a boca






e
s
c
o
r
r
e













lunes, agosto 18







respira de novo

da primeira vez eu não consegui ouvir direito o tamanho desse fosso .








-nunca mais se deixou levar por arremessos de pedra pra medir a profundidade das coisas  











domingo, agosto 3







Alguma coisa se perde



E repetia veementemente no exaspero
de angústia



foi embora.


densa




desesperada pela ausência no lado esquerdo da cama