viernes, octubre 14

“As lágrimas que derretem minha parede da velhice. Os olhos que de tão fundos são abismos para quem olha os olhos que ferem. O vazio se encontra ali. O suicídio encontra-se primeiramente nos olhos e posteriormente nos sentidos. Atirar-se dos teus olhos seria a morte romântica perfeita, porém nunca fui perfeita e nem um tanto grande de romantismo tinham minhas palavras.”

O problema desde o início eram os “não sentidos”, ou melhor, mal sentidos, na verdade nenhum sentimento poderia nascer dela, essa era a verdade inquestionável. Não que tivesse nascido rasa, com o tempo havia se tornado algo sem profundidade, sem amor próprio e completamente acreditada na dor que a fazia nortear em alguma direção.

Tinha uma loucura peculiar, dessas dos loucos tristes sabe? Alias a loucura era proveniente da tristeza. E a tristeza a remetia a causos de sua infância. Era uma criança triste? Não, crescida. Entendia os problemas que a cercavam, por isso não era uma criança triste, pois não tinha chegado a ser criança. É bem verdade que depois trocou as brincadeiras no play por cocaína como se fosse um saco de balinhas coloridas, não fazia por mal, apenas tentava ser criança com grandes cáries nos dentes de tantos pirulitos nos intervalos da escola.

Cresceu crianças. E o mais estranho disso tudo é que a desejavam mesmo com o corpo débil de menina. Nunca desejara ninguém, era apenas convenção social do jardim de infância. Como quando os “pequenos” não gostam de tal cousa e por força do hábito se acostumam a também serem cousas, era como se o amor nunca a atingira, o cuidado nunca a atingira. O choro sim.

Passava a vida enquanto ficava muda. Mudez doída, o silêncio que berrava por dentro era o sinônimo da dor. O mal. Contorção no estômago que se balança, ânsia de nojo. Moléstia de carne maltratada. Morte.

Morreu algumas vezes. As palavras da mãe a mataram em algumas boas vezes, o toque estranho, vulgaridades impostas ao seu corpo e a saudade do pai. E a felicidade eram instantes encontrados em qualquer coisa que a fizessem encher os olhos de graça. Longe das cousas só poderia ser a si mesmo, sem instante de pausa.

“Correntes pelo corpo. Existe algo além do teu próprio muro de dentes que não te permita sorrir? Quando criamos a dor, criamos também um limite para que ela exista. As coisas só existem dentro dos limites que pusermos sobre elas. O final do olhar não se encerra na pálpebra cerrada, assim como o cadafalso que te auto empregas em cruz santa não fará que teu corpo seja absolvido da pena imputada ao membro morto."


Carolina Burnier