E tudo pertencia ao seu pai. Absolutamente tudo
era algo que além de participar do universo dele, também era ele.
No início eram simples braços, pequenos, incapazes de
envolver qualquer coisa chamada de objeto, coisas essas táteis ou da ordem
cromática ficcional. Pequenos tufos de cabelo dissipados pela cabeça e as
feições atordoadas pela verossimilhança faziam parte do latifúndio afetivo.
E mesmo sendo gerado em
outrem, não fazia dessa consequência uma espécie de resultado menos dele. Era
um acaso temporal, genético, onde por questões de instantes não fosse possível
que ele desenvolvesse sua própria imagem em outra estrutura. Não foi
simplesmente uma questão de olhar-se no espelho e em questões dos próprios
instantes ver-se ali, paralisado, paralisando si. Sendo o “mesmo” parte de
outro ou não, não se fazia questão de partilha. Poderia ser o mesmo em versão
figurativa espelhada em alguma coisa que se dizia ele próprio.
E somos.
Tudo aquilo de outrora.
Pai-filho e o vice. Era o convexo com suas dissonâncias. E as consonâncias por
mais que fossem externas delimitavam um permear de cumplicidade e cuidado que
apenas estes poderiam compreender.
Os dedos do pé eram
simplesmente idênticos e por muito tempo seu reflexo pegava-se olhando. Os
dedos do pé. Os dedos. O pé.
“Extremidade dos membros dos animais terrestres que
assenta no solo. No homem e
outros bípedes, o termo se aplica
apenas à parte final das extremidades inferiores. O pé tem 29 ossos.”
Nada se fala da
internalidade dos pés, porque além de anatômico,
o pé é emocional, existe uma carga dramática que nenhum outro órgão traduz. No
movimento que nos traz para fora, retornamos a casa.
29 ossos.
E não se encontra. Não se tem presente ali nenhuma lembrança.
O esqueleto humano possui 270 ossos.
E nenhum deles poderia chamar
Seu.
29 ossos.
E não se encontra. Não se tem presente ali nenhuma lembrança.
O esqueleto humano possui 270 ossos.
E nenhum deles poderia chamar
Seu.
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