martes, octubre 23

Talvez um Dia



               Qualquer dia desses eu lhe chego e te faço uma festa. E nesse dia, quando eu chegar à sua porta, eu vou querer olhar bem pra você, olhar bem dentro da sua cara.
               
                Vou arrancar olhos, lamber o corpo e gritar, gritar tanta coisa que você não vai entender nada. Eu vou causar o caos e tirar todas essas dores e não me importe que não goste de surpresas ou festas no meio da noite.
               
                Mais dia menos dia e você vai ver, chegar metendo o pé na porta, te segurar pelos joelhos e olhar bem fora das órbitas dos seus olhos.
               
                Levar raiz de planta, cuspidor de fogo e o caralho a quatro e aí quero ver você se aguentar de baixo desse teto. Comemoração de um mês e o povoado todo vai vir e inclusive você vai voltar pra dentro de si. Banda tocando na sua porta. Gente trepando no sofá. E nenhuma viga vai ficar de pé, nem a sua.
               
                Pode esperar, num dia desses eu te ligo no meio da noite falando manso. E eu vou falar tão baixo que você não conseguirá escutar a minha voz ou qualquer tipo de som, mas eu ainda vou estar ali do outro lado da linha, chamando seu nome, implorando por festa. E nada disso vai chegar. E nada depois do vir também vai chegar.
               
                Te arrasto pelo cabelo no meio da sua sala. Digo que te amo, qualquer coisa assim. E você cravando todas as suas dez unhas no meu rosto, nas minhas costas. E eu vou te dar um sorriso. Um sorriso sim, porra, porque a festa vai estar dentro de você. E toda essa chaga antiga, essas dores no corpo vão estar em outro lugar.
               
               Eu vou estar dentro, tirando do sério qualquer situação contrária que não seja amor.

               Mais dia menos dia e você vai ver, chegar metendo o pé na porta e te pedindo pra ficar.


               Qualquer dia desses.


Bianca Burnier

3 comentarios:

Anónimo dijo...

!!!

Anónimo dijo...

"você disse que viria qualquer dia desses. disse que chegaria aqui em casa metendo o pé na porta e me pedindo para ficar, que me seguraria pelos joelhos e eu não teria como sair dali. você olharia bem dentro da minha cara e eu ficaria assustada.

depois disso teria festa, toda a gente aqui em casa e tudo de ruim indo para longe. você desfilaria comigo e seu corpo só aquietaria no meu.

teria ligação no meio da noite com a voz amansada pela madrugada, você disse. eu teria que fazer esforço para te escutar, de tão baixo que você falava, e não escutaria nada além da sua presença.

fiquei esperando você me arrastar pelo cabelo e dizer que me amava. eu te arranharia inteiro. o rosto, o corpo, tudo. sangraria um pouco e eu lamberia. você ia gritar, porque não sabia mais o que fazer. jogado ali na sala, dentro de mim, segurando-me pelo cabelo, cheio de sangue.

você diria mais uma vez que me amava antes de ir embora.

e toda a vez que a porta fechasse atrás das suas costas, eu choraria. porque nada faria sentido fora de nós.

mas você voltava, voltava com banda tocando na minha janela e uma garrafa quase vazia de baixo do braço. eu pegaria a garrafa e você me chamaria para dançar.

nós dançaríamos a noite toda e eu não sentiria mais nenhuma dor.

qualquer dia desses, você disse.

metendo o pé na porta, você disse.

falando que me ama e me pedindo para ficar."

Bianca Burnier dijo...

Esse comentário só será mais incrível, caso tenha sido feito pela mesma pessoa que me motivou a escrever o texto.

Vida de amores anônimos é difícil, mas já que você está aqui, sendo você quem seja, por que não fica?