domingo, mayo 20

Nem tanto autobiográfico


Bastava que abrisse a boca para que fosse possível sentir o cheiro da bebida misturada com algumas pontadas de dor no baixo ventre, misturadas com o cheiro crônico do cigarro na roupa, misturados com ônibus, celulares tocando impunemente polifônicas sinfonias clássicas, o guarda chuva que esquecemos no banco do metrô e pessoas teoricamente comuns. Na verdade nunca foi preciso que abrisse a boca para dizer nada, tudo sempre esteve exatamente ali nas cores do rosto para que fosse visto. Era quase que uma aparência insossa e autodeclarada de si mesma.
     
          As costas doíam, a cabeça latejava, a  insônia e algumas dormências em certas partes do corpo. Em certas ocasiões...

               Talvez seja melhor riscar todas essas linhas do caderno, antes que alguém descubra que isso não é um conto. Não que seja autobiográfico, é que no mundo de hoje, não se pode ter a dádiva de ser avesso. O problema mesmo é que às vezes eu não sou eu mesma.


“Porra, vinte anos e já sei que vou morrer. Que graça podemos implorar para conseguir algum tipo de sugestão que valha pelo menos a dúvida de que estamos vivos?”

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