domingo, abril 22

O Coração


    O músculo mais forte do corpo é o coração. Deparou-se com essa sentença alguns anos antes. Passava pela rua e por descuido de alguém que passava próximo, escutara essa frase.  Esses acasos de quando andamos na rua ou estamos no ônibus e de alguma forma captamos sons que se perdem dos outros. Seria mais ou menos quando andamos distraídos e pelo movimento da caminhada, os braços fazendo equilíbrio com o movimento das pernas e nesse instante um estranho nos toca, quando as pontas dos dedos roçam na roupa da pessoa que passa ao lado, na direção oposta ou na mesma direção. Aquele espanto, o medo de sermos inconvenientes, de termos tocado algo além das vestes e nesse simples descuido alguma fortaleza do outro desfarelar-se no ar.          
     “Desculpe-me”- Repete-se de forma quase agressiva ao estranho, este simples erro de percurso bastaria como algo pesado. E poderia algo mais ter sobrevida naquele restante de destino? Tudo poderia constranger-se naquele toque, menos o coração. E certo tempo depois entenderia de forma natural aquele acaso, como se aceita uma realidade, não pela imposição de ocorrido, porém por ser tudo aquilo o tempo inteiro e se quer dar-se conta.      
          E na realidade perceberia, “o coração sempre fora um músculo secundário”. As mãos sangravam, os dedos sangravam, os pés sangravam. O coração não, porque de certo na maioria das vezes vivemos tanto tempo encharcados de alguma coisa, que quando por fim nos ferimos não conseguimos identificar o que é aquela substância espessa que brota da nossa superfície, pois que talvez fosse mais algum sentimento empapando a roupa e não um corte profundo na carne. Por isso os desencontros viriam primeiro, porque sangrar e tocar são verbos dedicados à imaterialidade.
                O guardado no coração, não é amor ou qualquer outra sensação, é apenas a resistência muscular de sobrevida do restante dos órgãos. O sentimento é que aguarda o coração ser tocado pelo descuido, e após isso acontecer, o que antes era vontade compacta torna-se mais maleável, aos poucos se transforma numa espécie de líquido viscoso e atingindo o mais alto degrau de solubilidade vai se esparramando por todas as ramificações do corpo, logo não havendo a existência de nenhuma forma que poderíamos chamar de cardíaca como a anterior, na forma sólida.     
                “O músculo mais forte do corpo é o coração”. Deparou-se com essa sentença alguns anos antes . Escutara essa frase, como esses acasos de quando andamos distraídos na rua, em nosso movimento natural da caminhada, os braços fazendo equilíbrio com o movimento das pernas e nesse instante de alguma forma captamos sons que se perdem dos outros. De imediato temos certo espanto, o medo de sermos inconvenientes. Depois da frase, alguma inquietação instaurava- se naquele restante de percurso e enquanto passava pela rua, por descuido seu, um estranho que passava ao lado na direção oposta havia lhe encostado as pontas dos dedos e no desencontro sua mão tocado em sua roupa.  Nesse momento algo além das vestes tinham se desmistificado e neste simples cenário alguma fortaleza desfarelou-se no ar.

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