lunes, enero 2

O Primeiro Dia do Fim do Mundo

“O primeiro dia do fim do mundo. O que poderia findar no mundo não se sabia, mas ainda assim todos o temiam como a uma peste que assola um vilarejo e mata crianças e velhos indistintamente. E neste primogênito dia que aguardava o último, Deus poderia colocar seus sapatos novos para caminhar no gramado da terra e nem mesmo ele poderia saber o destino das formigas que criavam cidades, deuses e zepelins abaixo de seus pés.”

De frente para o muro do mundo não era possível que se soubesse em qual lado choveria primeiro. Apenas podíamos torcer para que a água que abarcasse o mundo não abraçasse a nossa lágrima de imediato.

Enquanto isso, os homens tinham desvarios de criador e nesta febre que os confortava, imagens de um outro mundo vinham como lampejos pelas janelas do corpo e ao invés de protegerem os olhos dos fortes feixes de luz, deixavam-se cegar pela esperança do progresso e da cura da loucura.

As palavras derramavam-se pelos cantos da boca, eram mastigadas com tanta força que os dentes se quebravam e o barulho dos estilhaços destruíam prédios de bairros inteiros.

Em algum lugar esquecido havia um ancião que gritava freneticamente para que deixassem a mulher chorar o próprio choro. “Deixem que desidrate. Aprendam que a uma mulher nunca se pede para que interrompa um choro de amor.”. E mesmo que esta não conseguisse identificar se o tom do velho era de respeito ou de ironia ela acreditou que alguém mais poderia entender o que se passava naquelas últimas horas.

Médicos, dançarinas e aleijados tentavam silenciar o desespero da vista. Quando os dois lados do muro se calaram, não havia mais nada que pudessem identificar como criação dos homens. Os próprios homens, já não eram homens. As palavras não existiam. O muro e a mulher que chorava eram o que tinham restado de sanidade de um século inteiro.

E se você acordasse de um sonho deitada ao lado de um muro, ainda assim pediria para que eu não chorasse por você?

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