martes, febrero 1

Sonâmbula

A única coisa que me conforta e ao mesmo tempo me dá calafrios durante a noite, é a interminável espera de ser eternizada pelas retinas ou por papel foto. Apenas sabemos de nós pela sombra do corpo que se pode ver na parede. O silêncio que há dentro da câmara é o que nos permite ser infinito, porque os mecanismos, as estruturas da sala escura selecionam o momento exato em que não seremos esquecidos.

Nunca me deito para dormir, sempre me deito para aguardar. Meu único desejo é de que consigam capturar todo esse medo. Alguém que me afague o ombro e distraidamente envolva meu corpo, minha angústia e meu corpo calejado com mentiras. Sussurre repetidas vezes coisas confusas, porque eu quero chegar ao ponto do transe onde se pode dizer que se ama sem pensar nas unhas que se cravam nas costas.

Sonâmbula, no instante em que eu mais me sugerir como mulher, será meu momento de mulher mais solitária do mundo.


Bianca Burnier

2 comentarios:

Raissa dijo...

''Sussurre repetidas vezes coisas confusas, porque eu quero chegar ao ponto do transe onde se pode dizer que se ama sem pensar nas unhas que se cravam nas costas.''
Lindo.

agbirlea dijo...

"Apenas sabemos de nós pela sombra do corpo que se pode ver na parede."
eu realmente gostei muito