martes, junio 21

E se descobrisse que a maior pena que recai sobre ela é viver¿ Talvez parasse tudo que fizesse por hábito para melhor sentir o chicote sobre as costas. As pessoas. Que dor lhe causavam as pessoas, principalmente aquelas que paravam no ponto de ônibus e a olhavam como uma recém chegada ao salão de festa. “Gente” era a força irrefreável para o sofrimento de seu ânimo.

Era o risco que sempre correra quando alguém lhe batia à porta ou saia na rua. O receio de que pudessem descobrir o que era tragado e o que também havia em toda aquela fumaça saída de sua boca. Habituou-se tanto a viver sozinha com suas pequenas coisas que não podia mais sair à rua. Os sinais. O nosso corpo exala os pergaminhos descalços que escondemos. Todas as verdades despidas e juradas de segredo e silêncio apareciam nas falhas de seu corpo.

Cabelos cacheados, olhos castanhos, largos quadris e cicatrizes pelo corpo. Nada poderia denuncia-la ainda mais que essas informações. A semântica do corpo era um ultraje para as coisas com maior peso que esta carregava.

Certa vez dormiu o mais triste que as suas lembranças permitiram. Acordou criança. E seu maior desejo era que a levassem segura pela mão, queria se equilibrar na beirada da calçada sem correr o risco de cair. Olhou até onde julgaria poder prosseguir em equilíbrio e pensou que se não acordasse do sonho poderia chegar até a próxima esquina.

Bianca Burnier

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