Esse corpo oscilante entre nossas
distâncias. Paire sobre mim querida, não estática, mas que seja dessas coisas
que fazes, esse não mover de ordem caótica em mim.
E me enganas nesse meio tempo,
essas histórias que ouço calada. No seu silêncio perpetua sempre esse meu
desespero das angústias, do não saber certeza. Esta cousa que aflige seu
movimento de mãos e as mãos impedidas de gestos amáveis ao meu caricato
sorriso.
Brilhem os sóis também entre os
seus cabelos, porque não basta ter claridade nos dias de cinza, que se tenha
sol debaixo de cada unha. E nesse nosso brilho próprio que haja montaria de
verso e luz para que se alcance alguma coisa, para poder chegar perto e dizer
que estou cega de ti.
E deixar-se cega é sempre a opção
reconfortante para nós que não nos vemos, e talvez até esse exaspero de não nos
conhecermos a tantos minutos assim ou pelo menos não suficiente para que eu
fale de sol e cabelo, porque existe, incide e reside em alguma ideia minha a
sua ideia interminada e quando você me apareceu já não havia intenção imagética,
porque eu era a resultado da criação que você bem entendesse de mim.
Produto seu.
Foi quando eu vi os sóis, você
parada, eu vendo você parada sendo sol de você, você parada sendo o sol.
E nessa hora eu era ideia ainda,
mas você me viu materializada nessa cordialidade de me ver aonde eu não estava,
aonde eu ainda não era, você me viu sendo coisa em qualquer canto,
desmaterializada não sendo eu.
Antes de qualquer coisa meu bem,
eu queria agradecer a esse seu impulso de reabilitar as coisas invisíveis, não
falo isso a toa. Foi importante para mim começar a existir bem logo naquele
momento.
Sendo eu coisa sua, para os
outros eu sou ideia ainda. E eu preciso ser paciente dessa percepção alheia para
que a cada instante me vejam no lugar onde não estou, porque onde você não está
eu sou só ideia ainda, sabe?
Bianca Burnier